Exemplo
 de toda esta luta são os atletas e comissão técnica do Maraã Futsal, 
equipe da cidade de Maraã, a qual fica a 615 km de Manaus (AM). Para 
chegar até Macapá, viajaram oito horas em um barco, onde a ansiedade e 
até mesmo o medo, por conta das fortes ventanias (principalmente à 
noite), foram adversários difíceis de serem batidos.
No
 entanto, nada que supere o drama vivido pelo atleta e Diretor Ednei 
Sena da Silva. Poucos dias antes da viagem, Ednei perdeu uma filha, 
de 18 anos, após um assalto, por conta de um celular.
A
 jovem, que praticava Jiu-Jítsu, reagiu ao assalto, mas foi golpeada por
 um dos criminosos, que portava uma faca. Segundo informações, um dos 
culpados foi pego pela PM local, enquanto outro (até o momento), segue 
foragido.
Ednei, que há alguns anos, 
iniciou um projeto para tirar jovens da marginalidade, por meio do 
esporte. Mas, por uma infeliz ironia do destino, a vida de sua filha foi
 interrompida, justamente pela criminalidade.
Em conversa com a nossa equipe, ainda muito abatido por tudo que aconteceu, Ednei resumiu: "Ainda dói muito, saber que perdi minha filha desta maneira. Mas tudo aqui, será por ela".
Saindo
 de Manaus, e indo para o Estado do Pará, mais precisamente, na cidade 
de Tomé-Açu (115 km da capital Belém), a vida de Ricardo Martins de 
Souza tomou um rumo diferente. Ainda aos 11 anos, Ricardo foi picado, em
 uma das pernas, por uma "Pico de Jaca", também chamada de Surucucu.
A
 ação do veneno da cobra foi praticamente imediata, tanto que Ricardo 
precisou amputar uma das pernas. Caso contrário, dificilmente iria 
sobreviver.
Mesmo com parte da 
infância e adolescência ter sido interrompida, Ricardo não desistiu de 
seus sonhos. No entanto, a meta primordial era sua recuperação física e 
metal. Segundo o jogador, o apoio dos pais e amigos foram essenciais 
neste processo:
Com o passar dos 
anos, Ricardo foi se adaptando (já com o uso de uma prótese) e a prática
 esportiva estava cada vez mais perto. Pelada com os amigos e jogos 
oficiais no Projeto "Toque de Classe", também foram (e são) fundamentais na vida de Ricardo, hoje com 22 anos de idade.
Ricardo leva a vida normalmente, e fala sobre a descontração nos vestiários e situações inusitadas:
"O
 pessoal brinca, faz piada, mas levo numa boa, até porque é tudo dentro 
do respeito. E uma situação inusitada, aconteceu durante a nossa viagem 
ao Amapá, quando o detector de metais, no aeroporto de Belém, acionou na
 minha passagem, por conta da minha prótese. Precisei tirar, e colocar 
em uma esteira. Foi um momento engraçado", diz.
José
 Niel, ou simplesmente "Niel". Este é um daqueles que vale a pena ficar 
na 'resenha' por horas e horas. Com 26 anos de idade, este pivô, nascido
 em Macapá, foi peça fundamental, ao lado de outros motoristas, no 
processo de translado de atletas e imprensa.
Durante
 o dia, Niel atua como motorista de aplicativo, mas na hora de ir às 
quadras, trocava seu uniforme para defender as cores do Residência EC, 
do Rio de Janeiro.
O convite para 
jogar na equipe carioca, surgiu de maneira inesperada, uma vez que o 
atleta atua no Panamá Futsal, clube da sua cidade e gerenciado pelo seu 
pai. Mas, por meio de seu perfil no Instagran, a Diretoria da equipe 
carioca gostou da sua forma de jogar e fez o convite:
"Eu
 sou grato pelo Residência, Grato, porque estou mostrando meu futsal. 
Que não queria estar jogando um Brasileiro dentro de sua casa? Eu 
preferi jogar, mais por conta de ser dentro de casa. Eu vou jogar por um
 time do Rio, mas vou representar o meu Estado também. Tem outros 
jogadores do Residência que também são daqui da terra. Alguns já se 
destacaram, como o Everton, o Patrick, o Edmilson e a gente ficou feliz 
por receber este convite".
No 
entanto, a estreia na competição não foi a planejada pelo jogador. 
Durante a partida contra o São Paulo, o goleiro titular, Diego sofreu 
uma lesão, e atuou no seu limite. Como não havia camisa para o 
goleiro-linha, coube ao pivô Niel, a assumir a meta do Residência, já no
 segundo período. Mas, mesmo com todo esforço, o 'arqueiro improvisado',
 não evitou o placar adverso.
Porém, 
vale lembrar que o Residência estava sem boa parte de seus jogadores e 
só no decorrer do torneio, os reforços chegaram ao Macapá.
Foto:Isaac Silva (@isaacsilvaphotograph)
Fonte:ligapaulistafutsal.com.br