Amandinha abre mão da Europa para fazer futsal feminino vingar no Brasil

Nunca, jamais, julgue alguém pelo tamanho. Amanda Lyssa, a Amandinha, tem 1,57 m de altura, mas em quadra, com a bola colada aos pés, se agiganta.
A cearense de 24 anos é a primeira jogadora a estabelecer uma hegemonia no prêmio de melhor do mundo no futsal. Em 2018, ela arrebatou o troféu pela quinta vez seguida, algo que nem o mito Falcão conseguiu entre os homens.


Amandinha enfileirou todos esses títulos atuando no Brasil, e assim deve ser nos próximos anos. Atualmente no Leoas da Serra, de Santa Catarina, ela tem descartado propostas do exterior sistematicamente para seguir por aqui, ajudando a desenvolver a modalidade. Esse, aliás, é um dos seus maiores objetivos como atleta.
Em bate-papo exclusivo com o RedBull.com, Amandinha fala sobre a sua carreira; os ídolos no futebol; o jogo coletivo que consagra e a difícil missão de fazer o futsal feminino vingar no Brasil.
RB: Como o futsal apareceu na sua vida?
A paixão por bola vem desde criancinha. Era a única menina jogando entre meninos. Fui convidada a jogar por um clube no Ceará e fui campeã da Taça Brasil sub-17. Foi num campeonato entre seleções estaduais em 2011, quando eu tinha 15 anos, que apareceu a chance de ir jogar em Santa Catarina. Assim começou a minha trajetória profissional.
RB: Quem são seus ídolos no esporte?
Não tem como não se inspirar no Falcão. Ele mudou o futsal de patamar. No campo, sou fã da Marta e do Neymar Jr. Acompanho o Neymar Jr desde 2009, quando ele surgiu no Santos. É o maior ídolo da minha geração e é um grande sonho conhecê-lo. Acho que ficaria em choque na frente dele.
RB: São cinco títulos seguidos de melhor do mundo, monopólio nunca antes visto nesse prêmio. O que a diferencia das demais atletas da sua modalidade?
Perseverança é fundamental. Não me acomodei quando ganhei o primeiro prêmio. Coloquei na cabeça aquele ditado de que "chegar ao topo é fácil; difícil é se manter lá", e é isso que me fez tão vencedora desde que sai de casa para ganhar a vida com o futsal.
RB: Vamos lá, Amandinha, perseverança é importante para vencer, mas você há de concordar que tem recursos em quadra que outras jogadoras não tem, certo?
Sei que sou um pouco diferente, não nego esse papel, até porque sirvo de referência para outras meninas que jogam futsal. Mas não me vejo tão diferente assim da média. Tecnicamente falando, sou veloz, gosto de ir pra cima e de criar jogadas. Prefiro o passe ao gol. Muita gente fala inclusive que eu trabalho toda a jogada e, na hora de definir, passo para uma companheira. É uma característica que tenho. Nunca pensei individualmente; penso sempre no coletivo.
RB: Longe de você se considerar a melhor de todos os tempos então?
Apesar dos títulos, não me considero a melhor de todos os tempos. Sou apenas uma atleta que luta pelo crescimento do futsal feminino no Brasil.
RB: Como você vê o futsal feminino brasileiro hoje perante mídia e torcida?
Costumo dizer que o que não é transmitido não é reconhecido. Ao contrário de outras modalidades coletivas mais populares, como futebol, vôlei e basquete, o futsal feminino não tem apelo aqui no Brasil. Se você tem transmissão de TV, você tem também patrocínios, e isso ajuda a divulgar a modalidade e a melhorar a vida dos atletas. Isso sem falar no preconceito que ainda existe com mulher jogando bola. Quando as pessoas vão ao ginásio para ver um jogo nosso, mudam de opinião na hora, voltam pra casa surpresas.
RB: Você é um ponto fora da curva dentro de um cenário nebuloso. Passa pela sua cabeça jogar em um centro mais visado, com melhor estrutura?
Todos os anos recebo propostas para jogar na Europa. Já tive vontade, mas nunca achei que precisava ir. Tem que ser uma proposta irrecusável, senão não vale a pena ficar longe do meu país. Se eu sair, estaria ganhando três, quatro vezes mais, mas estaria abandonando o esporte no Brasil. Amo jogar aqui. Conquistei muita coisa, mas o título mais importante que me falta é mudar a realidade do nosso futsal. Batalho por isso ao lado de muita gente, de muitas meninas sonhadoras. Não é só pelo dinheiro, é por amor ao esporte.
RB: Falcão encerrou a careira recentemente com mais de 3 mil gols na conta. Você tem na ponta do lápis quantos gols marcou nesses anos?
Não é comum contabilizar gols no futsal feminino. Muitas meninas nem se dão conta de anotar os gols que marcam. Por temporada, a média de gols de uma jogadora ofensiva é de 60, 70. Então acho que dá pra chegar aos mil ao final da carreira (risos).

RB: Quais os planos para 2019?
Neste ano temos Copa América. A seleção brasileira nunca perdeu um jogo oficial e venceu todos os torneios que disputou. Estamos na expectativa também de disputar as eliminatórias para o primeiro Mundial chancelado pela Fifa.
RB: Para fechar, cogita um dia migrar para o campo, manobra que tentou Falcão no início dos anos 2000?
Recebi convites, mas preferi continuar no futsal, que é o esporte que amo. Não descarto (jogar futebol de campo) porque não sabemos o dia de amanhã. Por enquanto, minha realidade é o futsal.
Fonte: Site RedBull/Escrito por Ricardo Gomes

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