Em 1952, o carioca Newton Zarani resolveu juntar um grupo de amigos para
 jogar futebol no América–RJ, seu clube de coração. Só que o jovem de 25
 anos deparou-se com um grande problema. Como o clube não tinha campo 
disponível, restava bater bola em uma das quadras poliesportivas da 
histórica sede de Campos Sales. Surgia ali o primeiro passo para a 
oficialização do futsal, que já era praticado de forma não oficial em 
São Paulo e no Uruguai. Em 1954, Zarani e seu grupo fundaram a Federação
 Carioca da modalidade, a mais antiga do mundo.
O carioca, inclusive, possui o status de ter sido o primeiro jogador 
federado do planeta. Hoje, aos 91 anos, Zarani leva uma vida tranquila 
na Zona Norte do Rio. Depois de seguir carreira como jogador, treinador e
 dirigente de futsal, o nonagenário ainda atuou como jornalista 
esportivo, aposentando-se da função em 2005. Newton Zarani é o 
participante deste domingo da série “Papo de Salão”, do SporTV.
“O
 futsal surgiu de uma necessidade. Nós não tínhamos onde jogar no 
América, então resolvemos criar um futebol que se pudesse jogar num 
espaço menor. Criamos um jogo que prezava pela técnica, sem violência e 
formamos um time de futsal para o América. O presidente do América 
gostou e resolveu investir na gente. Sofríamos muito preconceito por 
causa do uniforme que a gente usava e pela concorrência com o vôlei e 
com o basquete. Depois do nosso surgimento, apareceram vários times pela
 cidade como Vila Isabel, Maxwell, Mackenzie… Só que nós precisávamos 
oficializar isso”, contou Zarani em entrevista na quadra do Clube 
Municipal, um dos mais antigos do Rio.
Após dois anos de muitos jogos e competições amadoras, Newton Zarani e
 um grupo de jogadores resolveram fundar a Federação Carioca. A reunião 
que culminou na criação da entidade aconteceu no dia 28 de julho de 
1954, no restaurante Cafofo da Carola, dentro da sede do América. O 
local, inclusive, virou a sede da Federação num primeiro momento.
“Nós
 precisávamos de uma federação para criar campeonatos oficiais, 
registrar jogadores, enfim, organizar o nosso esporte. Depois que 
fundamos a Federação Carioca, o futsal cresceu na cidade, e, em um ano, 
já éramos o segundo esporte mais praticado no Rio”, destacou Zarani, 
também conhecido como “Charles Miller do Futsal”.
Como jogador, 
Zarani atuou apenas pelo América, que também foi o seu primeiro clube 
como treinador. Da equipe de Campos Sales, o baluarte da bola pesada 
migrou para o Club Municipal, onde fincou raízes até os dias atuais. 
Filho de Newton Zarani, Charles Calomino trabalha como treinador das 
divisões de base da equipe tijucana há mais de 30 anos.
Após fazer
 história como jogador, treinador e dirigente, Zarani tornou-se 
jornalista esportivo. Com passagens por rádios, onde foi um dos 
pioneiros na função de comentarista, o carioca foi trabalhar no extinto 
Jornal do Sports. No veículo, cobriu futsal, futebol de campo e diversas
 outras modalidades. Histórias curiosas são o que não lhe faltam.
“Uma
 vez me colocaram para cobrir hipismo. Eu não conhecia nada daquele 
esporte. Cheguei na Gávea, onde estava havendo a competição, me informei
 sobre as regras com um colega e me aventurei na cobertura. Pouco depois
 estava cobrindo hipismo direto e fazendo matérias com palpites dos 
cavalos vencedores”, disse o veterano.
Apesar das muitas estradas 
seguidas ao longo da vida, Zarani segue acompanhando o futsal de longe. 
Fazendo um paralelo com a sua época, ele enumera diversas diferenças 
entre o esporte que era praticado no seu tempo e o que é jogado nos dias
 atuais.
Hoje em dia está faltando aquela disciplina que nós tínhamos. A 
parte física está maior também. Só que hoje está mais fácil virar 
craque, nós éramos mais técnicos. Atualmente os caras entram e saem da 
quadra o tempo todo, então acabam jogando muito pouco. Na nossa época o 
jogo parava quando tinha substituição. Hoje temos muitos malabaristas, 
que na minha época não seriam craques”, comparou.
Zarani lamenta 
apenas que o Rio não tenha mais grandes equipes de futsal – o último 
carioca a participar da LNF foi o Botafogo em 2012. Saudosita, o 
“Charles Miller do Futsal” relembra os tempos áureos da modalidade no 
Rio, que foram os anos 80.
“Eu divido o futsal do Rio em duas 
épocas: antes e depois do Bradesco. O Bradesco profissionalizou o 
esporte a partir dos anos 80, tanto que foi tricampeão carioca. Era uma 
época muito boa, os ginásios viviam cheios. Vi vários craques jogarem 
futsal. Pena que acabou, mas, pelo menos, estou vendo que a semente que 
nós plantamos lá atrás se espalhou pelo mundo”, finalizou.
Fonte:Globo Esporte• Rio de Janeiro | RJ/lnf



 
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